terça-feira, 6 de agosto de 2013

Κρόνος

Cronos me engoliu.
Filho ingrato que sou,
me agarrou com suas de garras de homem-touro-leão
e não tinha intenção de passar.
Serpenteava envolta do mundo
guardando a terra que um dia eclodiria
pra se transformar em monstro.
Em tripé desequilibrado pelo medo da cria.
Vazia.
Desprovida de chifres, de garras ou sabedoria.
Que morde o próprio rabo
com gosto amargo do sangue escorrido.
Arrependido.
E que congelado, não podia mais seguir adiante.
Que me fez desbotar as escamas polidas
pelas mãos do amor.
Contrariado por não saber quem sou
amarrei-me à pedra da incerteza
e me joguei no mar do vazio
que é minha incompreensão.

Sem destino. Sem paraíso. Sem redenção.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Calafrios

Não quero falar do que não vivi
se posso correr pra não te enxergar
eu o faço, sem pressa
e já me despeço.
De que adianta te desejar
Uma boa partida, até logo, adeus?
Se bem lá no fundo
não sei desligar
se paro um instante
minha mente te caça
meu corpo te abraça
meus lábios se enchem
do vazio que você se fez.
Brinco de ser um pouco maior
me contento em fingir
acredito em tudo
até que seu vulto se mostra
e se prostra;
em corpos que não são seus
em braços que não se encaixam
abraços espaçosos e
pensamentos irrompidos.
Invoco cada poro seu
pra me sentir melhor
e entender as fábulas que me conto
em prato.
Em murmúrios escondidos
sussurros noturnos
gemidos abafados
palavras dedicadas
passadas.
Que não desgrudam do meu presente
e o que mais me corrói
e saber que você não sente.

Sombra de aroma azul
Compressão interna em vão
Antítese sobre o torno nu
Análogo ao complexo não

Sobressai à compreensão
Daqueles que se julgam só
Exílio por comparação
Desespero preso num nó

Expresso continuado
Excedido pelo timbre da alma
Quando o texto parece anulado
E o sentimento finalmente se acalma